domingo, 30 de janeiro de 2011

(PE) Carrefour vendeu lote de celular roubado

A unidade de Recife (PE) da rede francesa de hipermercados Carrefour fez uma promoção de venda de celulares que faziam parte de uma carga roubada em São Paulo no ano passado.

É o que revela o inquérito aberto pela Delegacia de Roubo de Cargas de Recife. De acordo com os autos do processo, pelo menos 500 aparelhos da marca Ericsson, modelo DH 668, foram colocados à venda na unidade.

Os telefones faziam parte de um lote, avaliado em R¹ 1,5 milhão, que foi roubado na rodovia dos Bandeirantes no dia 3 de maio do ano passado.

A investigação do roubo, que começou a partir de uma representação criminal feita por advogados da Ericsson, apurou uma trama cheia de personagens.

Um representante da empresa em Pernambuco desconfiou de uma promoção do Carrefour em que os celulares estavam sendo vendidos por R4 199,00. Segundo o funcionário, cujo nome não foi revelado, o preço do modelo, pelas características do aparelho, estava muito abaixo do valor praticado no mercado.

Ele comprou um aparelho, em agosto do ano passado, e o enviou para a sede da Ericsson, em São Paulo. A empresa constatou, por meio do número de série do aparelho (20407526133) na nota do Carrefour (064044 série F), que o telefone fazia parte do lote roubado na rodovia três meses antes.

Intermediários
Em depoimento à polícia, Altair da Silva, então gerente da unidade do Carrefour em Recife, afirmou que a carga havia sido comprada da Spryntt Celular Comércio e Serviços Ltda. A reportagem verificou que no endereço a que a nota fiscal remete, em Olinda, existe atualmente uma loja de venda de roupas.

De acordo com o gerente, o lote de celulares foi oferecido ao hipermercado por Flávio Ferreira da Silva, representante comercial da Brigntpoint do Brasil Ltda., de Barueri (SP), uma das fornecedoras do Carrefour.

Ouvido pela polícia, Flávio, por sua vez, disse que somente intermediou a informação de que havia no mercado um lote de telefones à venda, que teria sido repassada a ele por Ricardo José Rodrigues Gomes de Matos.

Engenheiro civil que trabalhara no mercado de celulares de Recife, Matos disse que fora procurado, em junho do ano passado, por Luiz Ricardo Gusmão, que seria o dono da Spryntt e estaria à procura de compradores para um lote de celulares. A polícia não conseguiu localizar Gusmão.

O delegado Luiz Roberto Bruto da Costa, responsável pelo inquérito, indiciou o então gerente do Carrefour, Altair da Silva, o representante da Brigntpoint, Flávio Ferreira da Silva, e o engenheiro civil pelos crimes de receptação de mercadoria roubada e formação de quadrilha.

O relator da CPI do Roubo de Cargas, deputado Oscar Andrade (PFL-RO), disse que o episódio "confirma indícios de que grandes grupos empresariais estão envolvidos no roubo de cargas". "Seria ingenuidade achar que os R$ 500 milhões que são roubados em cargas ano após ano alimentam apenas o comércio informal, o camelô. Hoje, o roubo já é feito sob encomenda", afirmou.

Ele disse que o motorista Jorge Meres, principal testemunha da comissão, "afirma categoricamente que já entregou mercadoria roubada no Carrefour de São José dos Campos".

"Os nossos trabalhos, na segunda fase da CPI, vão enfocar a questão da receptação de produtos roubados", declarou o deputado.

A Ericsson, por meio de sua assessoria de imprensa, informou que não poderia comentar o assunto, por orientação de seu departamento jurídico, pelo fato de estar sub judice.

De acordo com a empresa, qualquer telefone celular pode ser habilitado em uma operadora desde que exista uma nota fiscal de venda ao consumidor.

FONTE: FOLHA.COM

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