Prejuízo anual com a perda de mercadorias chega a R$ 80 milhões por ano, somente no Estado.
Com a média de três ataques por semana, o trecho entre Canoas e Tabaí da BR-386 é considerado o mais crítico quando o assunto é roubo de cargas pela Delegacia de Repressão ao Roubo e ao Furto de Cargas (DRFC) e pela Polícia Rodoviária Federal.
O Sindicato das Empresas Transportadoras de Cargas do Estado do RS (Setcergs) calcula que o prejuízo anual com a perda de mercadorias chega a R$ 80 milhões por ano, somente no Estado. Em todo o País, o valor sobe para R$ 900 milhões. A estrada liga o Estado ao norte do País. De Canoas a Iraí, na divisa com Santa Catarina, são 450 quilômetros.
O trecho mais complicado fica entre Canoas e Lajeado. Em Nova Santa Rita, são seis pontos de risco, onde as quadrilhas abordam os motoristas, fazem o transbordo da carga ou liberam as vítimas dos ataques.
Segundo titular da DRFC, delegado Rodrigo Bozzetto, eletroeletrônicos, medicamentos e polietileno sãs as cargas mais visadas pelos assaltantes. “São produtos de fácil reposição no mercado”, explica. O delegado aponta ainda a BR-290, na região de Arroio dos Ratos e Pantano Grande, como outro trecho problemático.
Pontos críticos (no trecho Canoas-Tabaí)
- Entroncamento da BR-386 com Berto Círio, em Canoas
- Ponte sobre o Rio dos Sinos, na divisa de Canoas e Nova Santa Rita
- Em frente a hotel, em Nova Santa Rita
- Acesso à Eletrosul, em Nova Santa Rita
- Saída do Pólo Petroquímico, em Montenegro
- Entroncamento de Triunfo
Fonte: DRFC/Deic
Comissão no Setcergs
O Setcergs há muitos anos enfrenta a questão e criou uma comissão que acompanha a ação da polícia na tentativa de coibir o roubo de cargas. O grupo reúne-se a cada 15 dias. Na próxima semana, um novo encontro irá discutir o trabalho em andamento da DRFC, Polícia Rodoviária e equipes Gerenciadoras de Risco.
O diretor do sindicato Renato Vitória acredita que a ação conjunta possa reduzir o crime que traz tantos prejuízos. Além da perda da carga, há os gastos com seguro, equipamentos de rastreamento e escolta armada, dependendo do valor do material transportado. “As seguradoras impõem condições, como estes equipamentos. Também há aumento no preço do seguro caso a empresa já tenha sofrido ataque”, explica.
Receptador
A pedra no sapato da polícia é descobrir quem recebe a carga roubada. “Roubam porque alguém recepta”, resume o chefe da 4ª Delegacia da PRF, inspetor Adão Vilmar Madril. O delegado Rodrigo Bozzetto, da DRFC, concorda: “Nossa maior preocupação é localizar quem recoloca estes produtos no mercado.”
Com a proximidade do fim do ano, caminhões com polietileno (usado na indústria de plástico) são bem procurados por quadrilhas. “As fábricas usam muito essa matéria-prima. Tem colocação rápida no mercado”, comenta Bozzetto.
Operação faz mapeamento
Em agosto, a Delegacia de Repressão ao Roubo e Furto de Cargas, ligada ao Deic, e a Polícia Rodoviária Federal organizaram a operação chamada Estrada Segura I, entre Canoas e Lajeado. Das 21 horas do dia 4 às 6 horas do dia 5, policiais civis e rodoviários monitoraram a rodovia BR-386 e apontaram os locais de maior risco.
Tanto o delegado Rodrigo Bozzeto, da DRFC, como o inspetor Adão Madril, da PRF, elogiam a ação. “É uma parceria muito importante para coibir este tipo de crime”, opina Madril, que aponta a redução do problema desde então. Mesmo assim, o patrulhamento não é diminuído. A Polícia Rodoviária mantém equipes táticas à noite para surpreender os bandidos.
Estudo para instalar câmeras
Diariamente passam 25 mil veículos no trecho da 386 entre Canoas e Tabaí. A chamada Estrada da Produção tem vários acessos ao interior e liga a Região Metropolitana a pontos do Estado. “Dali é possível acessar a Serra, o Norte, o Planalto Médio.
Por Santa Maria é possível ir à Fronteira Oeste”, explica o inspetor Adão Madril, da PRF. A Superintendência da PRF tem projeto para a instalação de câmeras de monitoramento entre Canoas e Lajeado.
Segundo o Núcleo de Comunicação Social da superintendência, há o estudo, mas não previsão para início, pois ainda se estrutura as câmeras na BR-116, que começaram a funcionar no início do mês.
“Sentados em bomba-relógio’’
A sensação de insegurança é permanente para quem transporta cargas. O diretor de Assuntos Sindicais do Sindicato dos Empregados em Transporte Rodoviário de Carga Seca do RS, Marco Antônio dos Santos, comenta que o medo é constante ao volante. “Estamos sentados em uma bomba-relógio. Qualquer carro diferente que se aproxima é motivo para ficar preocupado”, relata. O sindicato não tem estatísticas sobre o problema, mas trabalha para dar suporte aos associados vítimas de ataques nas estradas. “Muitos são espancados, humilhados. Oferecemos assistência psicológica.” O próprio Silva já foi assaltado, durante o transporte de uma carga de sapatos até o Rio de Janeiro. “A sensação é terrível”, recorda.
Medo é companheiro na estrada
Mesmo sem nunca ter sofrido assalto em 14 anos de profissão, o caminhoneiro Sidnei Bueno, 32 anos, confessa que o medo está sempre presente ao pegar a estrada. Natural de Palmeiras das Missões, ele passa até 50 dias longe da família. Uma bíblia no painel da cabine do caminhão revela a fé de Bueno, que é evangélico. “Me agarro em Deus”, fala.
Motorista ainda no hospital
Marcondes da Silva Leal, 43, tomou uma atitude extrema ao ser vítima de um assalto na Tabaí. Quando o caminhão carregado de polietileno passou em frente ao posto da PRF, ele jogou-se da cabine.
Com a batida da cabeça no asfalto, o motorista entrou em coma e segue internado no Hospital de Pronto-Socorro de Canoas em estado grave. O caso começou a ser investigado pela Delegacia de Polícia de Nova Santa Rita e foi repassado para a unidade de Triunfo, onde ocorreu o assalto.
A polícia achou o caminhão, ainda com a carga, em Nova Santa Rita. O inspetor da PRF Adão Madril assistiu à queda de Leal. “No início, pensamos ser um atropelamento. Ligando os fatos, descobrimos que se tratava de um roubo a carga”, recorda.
Onde denunciar
Disque-Denúncia Roubo de Cargas - 0800.5104701
Polícia Rodoviária Federal – 191
FONTE: DIARIO DE CANOAS