quinta-feira, 28 de julho de 2011

Roubo de cargas no Brasil: uma verdadeira batalha tecnológica

Sindicatos de empresas de transporte de cargas e de segurança alertam: sem a integração de tecnologia e informações ou uma política de combate ao roubo de carga, o crime seguirá crescendo exponencialmente.

Historicamente, o Brasil utiliza majoritariamente as rodovias no transporte de cargas. Questões estruturais, como uma malha rodoviária insuficiente, sucateada e perigosa, são algumas das queixas dos empresários por comprometer prazo e integridade da mercadoria. E o roubo de cargas vem preocupando cada vez mais: em 2010, o prejuízo foi de 280 milhões de reais, segundo o Sindicato de Empresas de Transporte de Carga de São Paulo e Região.

Dados da organização apontam que 80% dos roubos acontecem no Sudeste - centro econômico do Brasil que concentra a maior movimentação de cargas de várias regiões do país. O prejuízo só neste primeiro semestre já chega a R$ 68 milhões na região.

''Mais do que uma questão de segurança pública, o crime influencia outras instâncias além do prejuízo para a iniciativa privada e vislumbra uma solução integrada'', afirma o Coronel Venâncio de Moura, assessor de segurança do Sindicato das Empresas do Transporte Rodoviário de Cargas e Logística do Rio de Janeiro.

Por não ter uma configuração especial no Código Penal, o roubo de cargas não conta com uma punição adequada ou política de combate por parte do governo. Mesmo assim, o trabalho pela redução dos índices criminais no setor é incansável, como explica o coronel. ''Acompanhamos a mancha criminal através dos dados estatísticos; buscamos a integração entre forças policiais e empresariado de transporte de cargas e buscamos, ainda, propor medidas preventivas no armazenamento, carregamento e transporte de cargas'', diz. O especialista sugere também a adoção de procedimentos para sigilo do tipo e destino da carga transportada.

Hoje, uma ferramenta parece ser comum, tanto para os bandidos, quanto para a polícia e empresários: a tecnologia. ''O rastreamento, até bem pouco tempo, era uma ferramenta eficaz na prevenção ao roubo de cargas. Mas, do ano passado para cá, os ladrões estão utilizando o ''Jammer'' - um aparelho que bloqueia os sinais do satélite, comprometendo todo o sistema de segurança estabelecido'', explica o Coronel Venâncio.

No Paraná, a situação é semelhante. O Sindesp PR – Sindicato de Empresas de Segurança Privada, verificou que o uso de tecnologia de forma isolada na prevenção ao roubo de cargas é insuficiente para inibir este tipo de crime. E já existem algumas soluções inovadoras que incrementam a segurança neste segmento. ''Temos rastreadores por GPS, dispositivos que só permitem a abertura dos compartimentos em locais previamente definidos e a chamada cerca eletrônica - travamento do veículo se desviar de uma rota preestabelecida'', explica Mauricio Smaniotto, presidente do sindicato. Além disso, ele explica que há gerações mais avançadas de equipamentos e soluções específicas para transportadoras de cargas.

SINIAV, a solução integrada
Por envolver trânsito, o tema também é ponto de debate entre os especialistas de tráfego, que apostam no SINIAV – Sistema Nacional de Identificação Automática de Veículos. Com o chip eletrônico instalado nos veículos, ele funcionará como um rastreador e conterá dados, como número do chip, placa, chassi e RENAVAM. Criado em novembro de 2006 pelo Denatran, o objetivo é manter a comunicação entre os dispositivos nos veículo e antenas eletrônicas, que transmitirão os dados para centrais. Em caso de irregularidades, a polícia e outras autoridades serão alertadas rapidamente.

Em suma, a meta do Siniav é integrar os departamentos de monitoramento do tráfego à inteligência da Segurança Pública; a unificação dos dados permitirá acesso e atualização por ambos. Essa prática deve conferir maior agilidade na hora de verificar se um veículo está regular, proporcionando maior controle sobre o crime de roubo de cargas.

Para o especialista em trânsito e diretor da Perkons, José Mario de Andrade, o Siniav é uma tendência, mas para virar realidade, ainda precisa de evolução no setor. ''A identificação eletrônica dos veículos vai resolver muitas das mazelas, tanto em segurança pública, quanto em trânsito no Brasil. O tema central aqui é tempo. A economia dele vai otimizar ações policiais e economizar preciosos minutos dos motoristas, que terão os seus dados informados por meio eletrônico e só serão abordados em caso de irregularidades'', pontua Andrade.

NÚMEROS
- Os mais de 1,2 milhão de caminhoneiros registrados na Agência Nacional de Transporte Terrestre (ANTT) são responsáveis por 60% da carga transportada no Brasil.
- São mais de 130 mil empresas de transporte rodoviário no País, com mais de 1,6 milhão de veículos.
- Segundo o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), o Brasil conta com quase 74 mil quilômetros de rodovias federais não concedidas (mais de 60 mil quilômetros pavimentados).
- Dados da Associação Brasileira de Logística e Transporte de Carga (ABTC) mostram que os roubos de cargas vêm aumentando: em 2009, foram registradas 13,5 mil ocorrências, contra 12,4 mil em 2008 (os dados deste ano ainda não foram tabulados).
- Aproximadamente 59% dos roubos acontecem em rodovias federais, enquanto que 41% ocorrem nas estaduais. Os horários preferenciais dos ladrões são no período matutino (42%), entre 8h e 11h, quando as transportadoras fazem a maioria das entregas; os períodos vespertino e noturno correspondem, respectivamente, a 36% e 22%.
- Segundo o Sindicarga, as cargas mais visadas são cigarros, remédios e eletrodomésticos.

Saiba mais
Confira algumas das soluções para o roubo de cargas apresentadas durante o IV Encontro de Segurança no Transporte de Segurança do Transporte Rodoviário de Cargas e Logísticas da Região Sudeste, em maio deste ano:

- Constituição de uma ''FRENTE PRÓ CARGA'', sob a coordenação da Secretaria de Segurança Pública do Rio de Janeiro, englobando representantes dos organismos policiais (Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal, Polícia Civil e Polícia Militar), do fisco Estadual, do Ministério Público, bem como representantes dos setores interessados: transportador, embarcador, segurados e gerenciadores de risco, para analisar trimestralmente a situação do roubo de cargas no Estado e propor ações integradas; intercâmbio de informações entre os participantes, em particular entre os órgãos policiais da área;
- Rapidez de comunicação (via rádio ou celular) entre os órgãos policiais da área;
- Realização de operações conjuntas, do tipo ''força tarefa'', envolvendo agentes policiais e fiscais, para blitz em rodovias e áreas urbanas e para ações contra estabelecimentos suspeitos de receptação de produtos ilegais;
- Estabelecer um canal de comunicação adequado para permitir a urgência dos comunicados de roubo/furto de cargas aos órgãos policiais. Quanto mais rápido a informação chegar, maiores serãos as chances de resposta policial e, consequentemente de recuperação dos veículos/cargas subtraídas.
- Incluir o crime de roubo de cargas na meta de redução dos índices de criminalidade do Estado, que atualmente engloba os crimes de roubo de veículos, crimes de roubos de rua (transeunte, coletivo e celular) e Letalidade violência (homicídio doloso, latrocínio, lesão corporal seguido de morte e auto de resistência) que gratifica os policiais militares e civis que atingirem a meta estabelecida, com a gratificação semestral de R$6.000,00 (seis mil), R$3.000,00 (três mil) ou R$1.500,00 (mil e quinhentos), dependendo do desempenho.
- Prover a Delegacia de Roubos e Furtos de Cargas tecnologia de ponta, capacitação de seus agentes, gratificação por metas atingidas, logística e construção de nova sede em local mais acessível.

FONTE: PERKONS

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