domingo, 3 de julho de 2011

Denúncia de propina derruba integrantes dos Transportes

Quatro integrantes da cúpula do Ministério dos Transportes foram afastados de seus cargos ontem, por causa da revelação, feita pela revista Veja, de um suposto esquema de propinas montado para irrigar os cofres do PR.

Perderam os cargos o diretor-geral do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), Luiz Antônio Pagot, o presidente da Valec Engenharia, José Francisco das Neves, o Juquinha, o chefe de gabinete do Ministério dos Transportes, Mauro Barbosa Silva, e o assessor Luís Tito Bonvini.

Os quatro receberam telefonemas, do ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, que os informou do afastamento, a ser oficializado na segunda-feira pelo Palácio do Planalto. O próprio ministro, que também é presidente do PR, balança perigosamente no cargo. Logo pela manhã, ele telefonou para a presidente Dilma Rousseff e sugeriu o afastamento dos quatro. Informou, também, que abrirá uma sindicância e para isso pedirá apoio da Controladoria-Geral da União (CGU).

De acordo com a Veja, o esquema montado nos Transportes era baseado na cobrança de propinas de 4% das empreiteiras e de 5% das empresas de consultoria que elaboram os projetos de obras em rodovias e ferrovias. Em troca do pagamento da propina, os fornecedores teriam garantia de sucesso nas licitações, seriam beneficiados com superfaturamento de preços e teriam liberdade para fazer aditivos, o que também elevava o valor das obras.

Ainda conforme a revista, o produto dos desvios era dividido da seguinte maneira: a maior parte teria como destino o PR e uma parcela seria distribuída aos parlamentares dos Estados em que a obra era realizada. O comandante informal do esquema seria o deputado Valdemar da Costa Neto (SP), secretário-geral do PR. Segundo empreiteiros ouvidos pela revista, Bonvini seria o "homem da pasta" e Mauro Barbosa, o "dono da chave".

Bronca
O crescimento vertiginoso do custo dos empreendimentos teria levado a presidente Dilma Rousseff a convocar a cúpula dos Transportes para dar uma bronca daquelas. "Vocês ficam insuflando o valor das obras. Não há orçamento fiscal que resista aos aumentos propostos pelo Ministério dos Transportes. Eu teria de dobrar a carga tributária do País para dar conta", teria afirmado a presidente ao secretário executivo do ministério, Paulo Sérgio Passos, ao diretor de engenharia da Valec, Luiz Carlos Oliveira Machado, e ao diretor do Dnit afastado do cargo, segundo relato da revista.

Ela teria dito ainda que eles precisavam de babá, e que agora passariam a ter três: "a Miriam, a Gleisi e eu". Ela se referia à ministra do Planejamento, Miriam Belchior, coordenadora do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), e à ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann.

Entre os dados que irritaram Dilma, está o crescimento de 38% no orçamento de ferrovias em menos de um ano, de R$ 11,9 bilhões para R$ 16,4 bilhões, e um orçamento de R$ 1 bilhão para apenas um trecho da BR 116 entre Eldorado do Sul e Pelotas (RS). As cidades estão a 270 quilômetros uma da outra.

Em nota, o ministro dos Transportes rechaçou, "com veemência, qualquer ilação ou relato de que tenha autorizado, endossado ou sido conivente com a prática de quaisquer ato político-partidário envolvendo ações e projetos do Ministério dos Transportes." A nota informa, ainda, que os quatro funcionários foram afastados "em caráter preventivo e até a conclusão das investigações".

De acordo com o ministério, Nascimento adotou, a partir de janeiro, quando reassumiu a pasta, uma série de providências para melhorar a gestão das obras e reduzir custos. "Tal preocupação atende não apenas a necessidade de efetivo controle sobre os dispêndios do ministério, mas também a determinação de acompanhar as diretrizes orçamentárias do governo como um todo", diz a nota.

Agestado

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