quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Roubo de carga obriga o Brasil a investir em tecnologia

Rastreamento por satélite e GPRS tenta minimizar prejuízo das transportadoras.

Companheira de viagem dedicada, Flamarione Dias(foto), 43 anos, estava cuidando da limpeza do caminhão do marido, Rômulo Dourado, 34, quando foi abordada pela reportagem. Para quem passa grande parte da vida viajando, a boleia funciona como escritório, quarto, sala e divã. "Conheci Rômulo em Portugal e, por motivos de saúde, tivemos que voltar para o Brasil. Esta é a primeira vez que viajo com ele aqui", comentou a mãe de 3 filhos, que há cinco anos vive com o caminhoneiro. Das terras de além mar, compartilha com o parceiro a saudade das rodovias bem conservadas e da sensação de segurança. "Estamos há 20 dias na estrada e temos que ficar sempre alerta, seja aos acidentes, seja aos roubos que são frequentes."

O panorama descrito por Flamarione fez com que o setor de seguros no Brasil se adaptasse de uma forma peculiar. Os equipamentos, que em outros países, sobretudo na Europa, são usados por mera questão logística, aqui ganharam esferas de combate ao crime organizado. "Este é um mercado relativamente novo, com menos de 15 anos. Desse tempo para cá, esta modalidade criminosa migrou do roubo a banco para o roubo de cargas e as empresas precisaram se proteger", pontua o diretor executivo da Associação brasileira das empresas de gerenciamento de risco e tecnologia de rastreamento e monitoramento (Gristec), Wanderley Sigali.

Para o representante da Gristec, o decréscimo no índice do roubo registrado este ano, de acordo com a pesquisa da NTC&Logística, pode ter relação com o aprimoramento das tecnologias de segurança, que criam cada vez mais sistemas para dificultar a ação dos bandidos. "Todo esse aparato que você encontra nos caminhões, como sensores de porta, de baú, trava de rodas, espiões eletrônicos, tudo isso foi desenvolvido para a realidade brasileira. E as empresas daqui se especializaram para usar nesses sistemas a parte de segurança".

PERNAMBUCO

A movimentação de cargas no Porto de Suape, Região Metropolitana do Recife, bateu um recorde histórico no último mês de agosto: um milhão de toneladas. O reflexo disso é sentido nas estradas, porém as seguradoras ainda têm uma barreira regional a transpor. "Percebemos um "boom" no mercado, principalmente nos últimos seis meses, mas enfrentamos a baixa infra-estrutura e a falta da cultura de seguro no Nordeste", aponta o consultor Vicente Paulo, da Trade Express Vale. Segundo ele, a frota está aumentando rapidamente. "Empresas que há poucos meses tinham seis caminhões, hoje têm 20, 30. É preciso se preparar para esse crescimento", destaca.

"Das 110 seguradoras que atuam no País, apenas 6 ou 8 fazem seguros de cargas. E quando fazem, em geral, vendem seguros casados (da carga, do veículo, de vida) etc... Esta é considerada uma carteira problemática. Muitas seguradoras desistem ao amargar prejuízos", comenta o coronel Paulo de Souza, assessor de segurança da NTC&Logística. "Estas estatísticas vêm onerando os prêmios, mesmo assim estamos observando o interesse de seguradoras que não atuavam no Brasil em entrar neste mercado", comenta o corretor Joel Correia dos Santos, da Santos & Silveira Corretora de Seguros. Entre as seguradoras que atuam na área destacam-se Ace Transports, Allianz, Itaú Unibanco, Porto Seguro e SulAmérica.

Para as transportadoras, apesar de essencial, o custo de todo esse aparato é alto. "Temos que investir muito, trabalhar com várias tecnologias de rastreamento e com os gerenciadores de risco (GR) impostos pelas seguradoras. Os aparelhos são caros e ainda temos que pagar pelo monitoramento. Infelizmente, toda essa tecnologia não evita o roubo", lamenta o diretor operacional da Eclipse Transportes, empresa que atua em Pernambuco com uma frota de 150 veículos pesados. O transportador Wilson Marcato, da Liderança Transportadora, conta que, em seus 30 anos de atuação, procura adotar a maior segurança possível. "Não trabalho com carga se ela não estiver assegurada. E quando o valor agregado é muito alto, sequer comento com o motorista". O cuidado com o sigilo não é exclusividade de transportadoras menores. A Rapidão Cometa, conhecida no mercado por transportar equipamentos de empresas como Dell, HP e Apple, reconhece a importância do investimento em segurança, mas evita revelar suas estratégias. "Sabemos que a situação do roubo de cargas no Nordeste é bastante crítica", diz um funcionário da empresa que não quis ser identificado.

O gestor de risco da Buonny, uma das maiores do País, Inaldo Galvão explica que o papel das GRs é fazer um trabalho de background interligado a seguradoras e empresas de tecnologia de rastreamento, principalmente de forma preventiva, para garantir que a carga chegue com segurança ao seu destino. Para isso, esse tipo de empresa mapeia desde a ficha do motorista que vai conduzir o veículo, o posto onde ele vai pernoitar até as condições da estrada, tudo com tecnologia de ponta. É neste momento que entram as empresas que oferecem a tecnologia de rastreamento. "De acordo com a carga e com o plano de gerenciamento de risco definido pela seguradora nós oferecemos os equipamentos", ressalta o gerente regional da OnixSat para o Nordeste, Ricardo Lichirgu(foto).

Ele explica que é normal que as empresas que trabalham com cargas de valor agregado muito alto - como eletro-eletrônicos, por exemplo - adotem medidas de redundância (segundo rastreador) para aumentar a segurança do seu transporte ponto a ponto. "Trabalhamos com equipamentos híbridos (conseguem enviar o posicionamento da carga via satélite e GPRS), que possuem inteligência embarcada. Tudo vai dentro do computador de bordo do veículo e pode ser consultado à distância, oferecendo segurança de comunicação ao cliente". Ricardo explica ainda que atualmente várias empresas utilizam o equipamento principal (híbrido) e ainda um auxiliar (redundância). "Com isso o transportador tem um ganho logístico muito grande".

FONTE: NÃO ME ARRISCO NA BANGUELA

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